segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pesadelos e sonhos da mídia



Após termos discutido, no ano passado, elementos filosóficos da obra de David Lynch após a exibição de Veludo azul (Blue velvet - E.U.A., 1986), com o professor James Arêas (UERJ), neste último sábado, o Ciência em Foco propôs novos olhares a partir da exibição do instigante Cidade dos sonhos (Mulholand Dr. - E.U.A., 2001), filme considerado por muitos a obra-prima do diretor. Quem conversou com o público após a exibição foi Henrique Antoun, professor da ECO/UFRJ e pesquisador do CiberIDEA - Núcleo de pesquisa em tecnologia, cultura e subjetividade do PPGCOM/UFRJ.


Procurando pensar a mídia e a criação artística face às realidades inadiáveis da vida contemporânea, como a relação entre a arte, os afetos, a tecnologia e o social, Antoun propôs um curioso ponto de partida com David Lynch e seu filme, que se apresenta como um pensamento provocador em torno do mundo do cinema e do espetáculo. Ao relembrar que a arte teria nascido ao mesmo tempo que a democraria, na Grécia da Antiguidade, com as tragédias gregas, Antoun situou a relativa autonomia que este tipo de expressão possuía com relação às exigências da sociedade, da política e da religião, e saltou para o conturbado século XX, marcado pela presença do cinema.


O cenário se complexifica quando, a partir da década de 80 e a emergência do neoliberalismo, o mundo vê surgir também as tecnologias informáticas que, substituindo o esforço humano, reinventam o sentido do trabalho - que passa a demandar afeto, criação e invenção - pavimentando caminho determinante para nosso mundo atual. O cinema, diante da TV e dos meios proliferantes de criação possibilitados pela informática e pelas relações sociais da internet - a chamada mídia livre - encarna os dilemas filosóficos do sujeito moderno: afinal, quem pensa? Qual seria, enfim, seu estatuto? O filme de Lynch, deste modo, desenrolaria uma história que se confundiria com os jogos e as tensões que atravessam a história do cinema, formulando questões sobre o que seria entretenimento, negócio, arte, cultura e criação.


A mídia livre, no entanto, é aquela que aparece como um contraponto à pergunta sobre quem pensa, permitindo a todos uma forma de buscar, pela expressão, um sentido àquilo que os atravessa, fazendo coincidir sujeito e criação. Se a arte, desde a tragédia grega, tem a ver com o sensível, com a carne, é porque ela reage ao que lhe acontece, nos fazendo lembrar que estamos vivos e não indiferentes ao que nos rodeia. Nossa próxima sessão acontecerá no dia 4 de junho, com a exibição do filme Os doze macacos (Twelve monkeys - E.U.A., 1995), de Terry Gilliam. Teremos a alegria de receber, como convidado do mês, o professor de bioética da UNIRIO, Paulo Vasconcellos-Silva, doutor em Saúde Pública e pesquisador do IOC/Fiocruz, com a palestra Como trafegar no tempo sem perder os dentes. Anotem na agenda e divulguem. Até lá!





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