segunda-feira, 9 de agosto de 2010

As trajetórias inversas de homem e máquina

Após o hiato da Copa do Mundo, o Ciência em Foco recebeu pela primeira vez, na Casa da Ciência da UFRJ, o poeta e matemático Ricardo Kubrusly. Ele já havia participado duas vezes do Ciência em Foco, quando era realizado no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCT), e propôs uma releitura, exatos quatro anos depois, das suas reflexões sobre o filme Pi (E.U.A., 1998), de Darren Aronofsky.

E que releitura! Kubrusly iniciou sua fala atentando para aquele que seria o verdadeiro protagonista do filme: o computador Euclid, no qual o matemático Max realiza suas pesquisas em busca de respostas que trariam uma explicação total da existência, a partir de padrões no número Pi. Rememorando a história das máquinas e dos computadores, Kubrusly salientou o fato da máquina ser, em sua origem, específica, por possuir apenas uma função, enquanto o homem seria, em oposição, destinado a uma série variada de funções e atividades interditadas às máquinas.

O filme, aproximando-se de nossa época, apresenta uma metáfora do entrecruzamento entre homem e máquina. Humanizada, a máquina adquire até mesmo consciência, enquanto Max, o homem da ciência, especializado ao extremo, tem sua consciência cada vez mais dissolvida ao buscar as verdades impossíveis. Nesta leitura atual de Kubrusly, o que ganha importância é a atenção às lições do corpo, do sensível, já que a matemática, ao contrário do que nos ensinam na escola e do que pensa Max, não se encontra na natureza.

Destacando a importância e a abrangência da poesia como um modo de compreensão do mundo, Kubrusly sinalizou o ponto de intercessão entre a arte e a matemática pura - universo com o qual Max lidava no filme, sendo um teórico de números: é na inutilidade que elas se igualam. E, claro, aproveitou para recitar um de seus poemas, pois, de acordo com ele, 'uma plateia deste tamanho, para poesia, só em dia de ciência.'

Nossa próxima sessão acontece no dia 4 de setembro, quando exibiremos o clássico Veludo azul (E.U.A., 1986), de David Lynch, seguido da palestra de James Arêas, professor do Departamento de Filosofia da UERJ, intitulada David Lynch: o pulsar do tempo. Até lá!


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